Quem sou eu? II

Eu sou discurso, sou as representações que se fazem de mim, sou tudo aquilo que esqueceram de falar sobre mim, sou fragmento, lacuna no espaço-tempo, dos que comigo tiveram uma história ou alguns momentos, sou a apropriação, advento ou não, postulados cheios de significados ou significado nenhum, sou o Outro, sou outros, tudo em mim.

Sou percepções pretéritas, sou relações presentes, sou parte de um futuro ainda ausente, sou ator principal, nem sempre social, às vezes, coadjuvante, nunca atemporal, sou de repente, somente mais um, mas para alguns, sou único, sou de lugar nenhum, ou melhor, de um não-lugar, fora de um lugar comum...

Eu sou ainda, o que penso ser, o que penso não ser, ontem, hoje e amanhã, sou flexível, sou variante possível, mesmo que invisível, a mudança se faz plausível.

Sou também o que não foi, o que queria ser, o que nunca quis ser, sou o agrupamento de desejos e permanências, sou também as inúmeras ausências, sou pedaços do que se foi, dos que se foram, sou também um pedaço em cada um dos que deixaram significado, nos quais também deixei.

Sou o que falo; sou o que escuto, sou o que visto, sou significante daquilo que luto, sou ruptura, itinerante, mesmo imóvel, sou constante, sou defeituoso a cada instante, a cima de tudo sou pulsante, humanamente dialético, porém deveras poético.

Posso ser (ter?) tudo isso, ou nada disso.

Alguém que esteve, que está, ou que ainda estará em minha vida, com significado verdadeiro, talvez possa responder essa questão.

Em não sendo, só Deus então...