Lendas do norte
Matintaperera do alto da samumeira
Silvou no seio da mata...
Alertou à brisa de prata.
Um silêncio que foi escrito na estrada.
Boiúna, Anhangá,
Jurupari e Curupira de uma carreira fizeram mesa no outeiro.
Diziam em prantos largos tem homem na mata;
Tem homem carregando andirobeira nas costas.
Mãe-da-água,viu boto cinza saltar, logo tratou de avisar...
Tem homem na mata.
A virgem Amazonas, que buscava apenas uma flor...
Ouviu do vento que farfalhou,
O brado retumbante...
Tem homem na mata.
Caboclo no casco em busca da caça,
Mesmo ouvindo teimou...
Sem as vestes, nua morena se apresentou.
Caboclo sem medo falou:
Mulher, quem tem filho com fome
Não há que ter temor!
A chuva tomou de conta as ruas dos igarapés,
logo o cheiro de mato com terra vida anunciou.
Tem homem levando nas costas a morte...
Ipê roxo, Tucano, Onça pintada,
Passarinhada, vitória Régia e o rio Amazonas.
Casa de preto velho, contou...
E muitos mortos foram os brancos,
Foram os sem consciência,
Inimigos da razão.
Tambor aos poucos se agigantaram espulsando os mensageiros,
Enviados dos donos dos terreiros, que a espreita na mata,
Matam a graça de viver pela vida.
Não sei ao certo, mas era fim de dezembro para começar janeiro
As águas desciam no terreiro,
A palafita a beira do rio fundiava.
Equidistante se avistava a cabocla
Conduzindo os filhos para dentro da casa,
Enquanto o homem tentava fugir com a madeira da selva...
Mas a noite calada chegava e apanhava.
Trazia na escuridão vaga-lumes,
Grilos e um silvo soturno nas profundezas da mata.
Só lâmparina iluminava, não acalmava o choro da criançada,
Cravava no peito o temor, enquanto a mãe vó contava histórias. Enquanto a mata em brasa sangrava,
Pelas almas penadas...
Singrava do nada nau em fuga.
A beira do rio, por mais que as mães pranteassem a morte sem causa.
No vazio o roubo desaparecia castigado.
Mal sabia eles quem perdia