Lá vai o Poeta
Lá vai o poeta
Despejar sua alegria
Numa tela avermelhada
Letra, luz, cantoria.
Quem vive das letras
Pode-se dizer que tem nas mãos o mundo inteiro
E cabe dentro de si, toda alegria
O que não cabe metade dentro do dinheiro.
Pega, cata o poeta
Uma letra encantada no ar
Mistura na curva de uma frase
E coloridamente irá se formar
Cata à direita uma palavra, que se une
Outro sentido se renova,
Cada lugar que uma palavra nova assume.
Trocando de lugar alguma que reprove.
Tantas regras, ordens e números
No seu lugar, cada qual,
E no fim, pra o sentido, ser o mesmo
E sempre igual:
- amor.
Que poesia não é feita desse princípio?
Logo, toda forma de sentimento
É um particípio: já está consumado.
Apesar de desconstruído
Apesar de alterado.
Amor é feito ordem,
Vive de imperativos.
Ao mesmo tempo desordenado,
Penso o segundo: afirmativo.
Queria viver sem as letras,
Talvez amar com linhas mímicas
Serão os gestos suficientes então...
Pra acabar com palavras cínicas?
O que devo utilizar?
Essa tal fala?
A qual, a mal, a bela escrita?
Às vezes me sinto um tanto quanto,
Impotentemente aflita...
E quando paro, penso, finda:
Amar ainda é a linguagem mais bonita