DECOMPOSIÇÃO

DECOMPOSIÇÃO

A luz dos olhos vai se perdendo...

e tudo o mais se condiciona

à lona na qual a máscara junta-se à lama.

Um gesto restrito ao lamento,

a mão que se lança sobre a face

para chorar,

chorar o corpo

sobre a máscara da terra.

A face e o capuz,

e o pintor cego que sensivelmente chora

para o sol,

nos ombros das trevas.

E tudo se conflita na companhia dos vermes.

A face de luz é de quem se perde

com uma cruz solitária por entre as trevas.

E a condição nos desfaz,

desfaz-se, e a podridão contamina

a última célula, e tudo o mais

se condiciona ao lixo.

Disfarce de luz, e tudo abaixo

conforme a farsa que se consome

e o nome que se assina

perante o descaso.

É o prazo que se dá à face

e um impasse que sai do lixo.

Desfaço a própria palavra,

e o agiota dos sonhos presencia os seus

juros conforme o crédito que se dá

à próxima face, que se desfaz...

E tudo se junta ao que apodrece...

A luz desfazendo-se...

A face, o disfarce, a máscara e a decomposição.

No entanto, um vegetal resiste sensivelmente

além do apelo,

resiste em meio ao túmulo,

e cresce entre a dor

da fome de sol

e a agonia de todos os frutos.

FERNANDO MEDEIROS

Campinas, dezembro de 2006.