A poesia que não fiz

Separei cento e cinquenta

e três palavras.

Separei essas palavras

Para formar uma poesia.

Por não ter tempo, separei-as

Mas não as coloquei em ordem.

Separei seis pontos,

E mais um de interrogação,

Separei seis vírgulas,

Inclusive um dois pontos.

Guardei tudo cuidadosamente

Em uma caixa de música

Sôbre minha cômoda.

O tempo foi passando...

Olhava as palavras

E não conseguia junta-las,

Minhas lágrimas não me permitiam ver

E minha dor não me permitia pensar,

Assim, as letras, os pontos,

E até as vírgulas

Foram ficando velhas,

Foram ficando tristes,

Por mais que pedisse

Que elas ficassem alegres

Para que pudesse

Ordena-las e pô-las no papel...

Eu as sentia angustiadas,

Elas não queriam formar

Minha poesia alegre

E me culpavam pela tristeza delas

Dizendo que eu também estava triste.

Um dia achei que podia junta-las,

Fui busca-las na caixa de música,

E surpreso, percebí

Que tinham ido embora

Cento e cinquenta e duas palavras,

Os seis pontos, as seis vírgulas,

Até o dois pontos,

Ficaram apenas ... Eu ?

jose joao da cruz filho
Enviado por jose joao da cruz filho em 31/08/2011
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