A maturidade de ser criança

Só quem é capaz de desembaçar as vistas da alma enxerga

Que os valores da vida não se medem em cifrões.

Que a beleza das pessoas está no avesso da aparência.

E que a velhice é muito mais um tiro de largada do que um pódio de chegada.

Só quem é capaz de suspender as cortinas da Razão percebe

Que conhecimento nada tem a ver com acúmulo de informações.

Que a palavra trabalho está mais próxima da palavra satisfação do que da palavra dinheiro.

E que os termos ‘simples’ e ‘simplório’ são praticamente antagônicos.

Só quem é capaz de desentupir os poros da sensibilidade sente

Que o importante não está na extensão, mas na intensão.

Que a reticência geralmente diz mais que a exclamação.

E que os astros vistos pelo telescópio são mais notáveis do que os vistos pela televisão.

Para desvelar esse mundo mais real que a realidade,

Senhoras se senhores,

É preciso descalçar as convenções,

Espirar a criatividade e expirar a mediocridade.

Experimentar ao invés de analisar.

Para isso,

É preciso um altíssimo grau de maturidade:

É preciso ser criança.