sonhos que desabam e se quebram
É preciso recolher as cinzas
do velho barraco dos sonhos,
retirar estacas do peito,
vestígios da alma.
Sonhos de madeira sobre a vida
Caem sobre os homens
sonhos que desabam sobre os homens
homens que desabam sobre os sonhos.
É preciso recolher os estilhaços
Dos sonhos de vidro sobre o azulejo da vida
Recolher os cacos de ilusão
Cicatrizar os pés feridos
Varrer de nós essa tristeza parada e fria.
Sonhos de vidro sobre a vida
Caem sobre os homens
Sonhos que se quebram sobre os homens
homens que se quebram sobre os sonhos.
A brevidade da vida se resume em sonhos
Que desabam e se quebram.
Peças frágeis de um desejo impossível de eternidade
Mas tudo que desaba e se quebra
pode ser reerguido e refeito em nós.
Caminhamos entupidos de sonhos,
Estacas cravadas no peito,
Cacos fincados nos pés.
Neles estamos feridos e neles estamos refeitos,
neles estamos realizados
numa inconformidade de nunca estarmos realizados.
porque somos o que sonhamos
mas nunca sabemos ao certo o que sonhamos
e porque sonhamos.
Porque sonhar é sofreguidão do viver
Porque viver sem sonhar já é sofrer.
E viver a sonhar é morrer.
É preciso construir a vida sem sonhos
Desejos sem madeira e sem vidro
Que não desabem e que não se quebrem
Mas que existam.
apenas existam.
É preciso ir de volta,
no ao coração vazio de si
e a esse corpo morto,
de volta à própria vida.
E se for impossível construir a vida sem sonhos
que eles sejam assim:
Que durem e acabem
antes mesmo de existir.