sonhos que desabam e se quebram

É preciso recolher as cinzas

do velho barraco dos sonhos,

retirar estacas do peito,

vestígios da alma.

Sonhos de madeira sobre a vida

Caem sobre os homens

sonhos que desabam sobre os homens

homens que desabam sobre os sonhos.

É preciso recolher os estilhaços

Dos sonhos de vidro sobre o azulejo da vida

Recolher os cacos de ilusão

Cicatrizar os pés feridos

Varrer de nós essa tristeza parada e fria.

Sonhos de vidro sobre a vida

Caem sobre os homens

Sonhos que se quebram sobre os homens

homens que se quebram sobre os sonhos.

A brevidade da vida se resume em sonhos

Que desabam e se quebram.

Peças frágeis de um desejo impossível de eternidade

Mas tudo que desaba e se quebra

pode ser reerguido e refeito em nós.

Caminhamos entupidos de sonhos,

Estacas cravadas no peito,

Cacos fincados nos pés.

Neles estamos feridos e neles estamos refeitos,

neles estamos realizados

numa inconformidade de nunca estarmos realizados.

porque somos o que sonhamos

mas nunca sabemos ao certo o que sonhamos

e porque sonhamos.

Porque sonhar é sofreguidão do viver

Porque viver sem sonhar já é sofrer.

E viver a sonhar é morrer.

É preciso construir a vida sem sonhos

Desejos sem madeira e sem vidro

Que não desabem e que não se quebrem

Mas que existam.

apenas existam.

É preciso ir de volta,

no ao coração vazio de si

e a esse corpo morto,

de volta à própria vida.

E se for impossível construir a vida sem sonhos

que eles sejam assim:

Que durem e acabem

antes mesmo de existir.

Geovane Belo
Enviado por Geovane Belo em 19/12/2006
Código do texto: T322561