Cotidiano
Não me sinto barreira, me sinto peneira para que passes por dentro de mim.
Se foge o riso prá que preciso viver perto de ti.
É porque muito distante tenho medo que ainda alcance o começo sem fim.
Se ando lento, acenda um incenso, mas não acompanhe a mim.
Procure um espelho, reflita sua alma, cuide de um jardim.
Se não se domina, porque imagina viver sem sorrir.
As flores estão aí, a rosa, a violeta, o cravo, o jasmim.
Se o tempo está duro, procure no escuro um fragmento de mim.
É porque a noite é vazia, assim como a bacia depois da pia.
Roupas no varal a espera de um sol, espera banal.
Mas não vejo beleza, e não me sinto tristeza, eu sou mesmo assim.
Um dia aqui, o outro ali, sem começo nem fim.
19.07.98