Homem chora?
Wilson Correia
Pré-palavra
Manoel de Barros (o poeta mato-grossense) era filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). O líder partidário era o gaúcho Luiz Carlos Prestes. Em 1945, Prestes foi libertado, após dez anos de prisão. À época, o próprio PCB difundia o entendimento de que Getúlio havia implantado um governo assassino no Brasil. Nesse contexto, Manoel de Barros esperava que, livre, Prestes se pronunciasse contra o governo Vargas. E se mandou para o Rio de Janeiro para ouvir Prestes. E o que aconteceu naquele encontro? O próprio Manoel de Barros relata: "Quando escutei o discurso apoiando Getúlio —o mesmo Getúlio que havia entregue sua mulher, Olga Benário, aos nazistas— não agüentei. Sentei na calçada e chorei. Saí andando sem rumo, desconsolado. Rompi definitivamente com o Partido e fui para o Pantanal"*.
Palavra
Oqueuquê?
Desconsolado é grave
Sem rumo é gravíssimo
Chorar é pecadíssimo
Rompimento é liberdade
Pantanal é vida e tudo
Onde homem pode chorar?
Em nossas cabeças
enquadradas, não!
Em nossos corações
machisticamente
congelados, não!
Só há um lugar em que
homem pode chorar
ali onde a cabeça dele
é um universo e seu
coração, imenso céu,
feito um videiro de
pantanal
Tenho presságios:
Ainda haverá uma
filosofia do choro
na qual o homem será
visto como humano
com cabeça de lua cheia
e coração de pantaneira
ventania
No chão rasteiro
as larvas terráqueas
(sem ofensa às larvas!)
poderão se afogar
E aí? Quem habitaria essa
nossa Terra espezinhada,
exilada do Pantanal?
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*Fonte: http://www.cpdoc.fgv.br/comum/htm