LUANDA

O bairro está todo florido, faltam poucos dias

Para a chegada da primavera,

Existe um perfume terno no ar.

As casas se modificaram,

do aspecto arquitetônico do começo,

Quando existiam apenas casas simples,

Com anseios de transformação.

O céu; olha, continua o mesmo

Que admirávamos há tempos passados.

Os passarinhos continuam cantando,

Indiferentes á minha solidão.

A minha casa ainda é a mesma,

Bem sei o quanto você gostava dela.

Sim eu sentia sua presença pelo rangido do portão.

Hoje sinto um vazio imenso,

Que chega até ser uma dor,

Quando alguém abre o portão,

E eu tenho certeza que não pode ser você.

Por que você foi ingrata comigo,

Desaparecendo como uma magia?

Simplesmente morando no mesmo bairro,

Respirando o mesmo ar que respiro.

Passando pelas ruas que eu passo;

Mas não lhe encontro mais.

Por que você fugiu assim?

Foi sem deixar um adeus sequer,

Não tive explicação até hoje...

Nem sei aonde foi que eu errei.

Nosso amor ficou perdido,

Por entre as esquinas à perambular.

Você matou meu sonho mais lindo,

Tirando-me seu porto amigo.

Sou obrigado a navegar sem rumo,

E as águas estão tão bravias para mim.

Sinto-me alquebrado pelo tempo,

E por tudo que sofro, já deveria ter-me

Esquecido de você,

Mas não posso mandar em meu coração.

A nostalgia é imensa,

Às vezes fico observando o por do sol,

E imagino-me pintando o seu retrato por entre as cores,

Dourado, rubro, azul cinza e lilás do poente.

Mas acho que já não posso mais pincelar o céu...

Minhas tintas endureceram,

Minhas mãos tremulam quando penso em você, e desisto.

Apenas lhe imagino na tela do horizonte,

E procuro dormir com sua imagem na mente.

Não quero de você amor, nem afeto.

Não precisa ter compaixão de mim.

Sei que seus pensamentos mudaram desde aqueles tempos,

Que mudaram tão radicalmente como por encanto.

Gostaria apenas após tanto tempo,

Poder ve-la, mesmo de longe, e ouvir...

Um bom dia, um como vai você e um sorriso!

Para que eu possa seguir

No consolo amigo dos meus versos,

Pela noite suave com estrelas cintilando,

Quais diamantes em um veludo azeviche... Sem que eu chore.

Não me negue um pouco da sua bondade e amizade.

Não me negue vez em quando,

A coisa que mais adoro nesta vida, que é...

A sua presença!

Salvador, primavera, 14/09/2011