A Flor da Primavera

Dos meus versos fiz luvas para proteger tuas mãos dos sulcos íngremes do tempo.

À sombra da primavera, te entreguei a flor do amor.

Sobre os lençóis freáticos da terra

fiz de ti a canção não prometida.

Foi assim que no anverso dos meus versos levantou-se tal enredo:

“Pelas janelas sem pintura

Cresce a rebelde criatura

Dorme nos cofres o segredo

E se levanta a flor do medo”

A flor que a ciência não cataloga,

solta espinhos na minha alma.

Flor visceral

Flor lacrimal

Flor de qualquer era

Flor da primavera

Guardo tuas sementes no baú secreto d’alma,

onde os cirurgiões não põem as mãos,

onde a ferrugem não se aninha.

Meus versos não querem ser vinho nem vinagre.

Meus versos querem ser pássaro e passarela.