penitências
Ah! Se soubesses mesmo do amor não ousarias duvidar
A dúvida é uma maldição, pesticida envenenando a alma
E nenhum corpo é são se o espírito lhe apavora!
Quem vive sob o sol não deveria temer a luz e a sombra
É insensato, ainda que sensatez não rime muito com coragem
Se bem que é preciso ter coragem sendo sensato!
Não é inteligente andar com gravatas e paletós na primavera
Ainda que a brisa arrepie o corpo ao entardecer, ao anoitecer
Ainda que o mar resolva tomar a praia, beijar-te os pés!
Enquanto o silêncio que atordoa tingir o céu da boca
Descanse, deixa o barco em remanso
Enquanto isto vá à nascente, lá a água é santa!
Quisera eu andar em pele por entre estes prédios acinzentados
Sim, eles também têm belezas, tristezas, sonhos, sonhos
Nesta babel a vida não anda, escorre, e não é para o oceano!
Fugir de manhã, andar na areia, banhar-me em cachoeira, sonhos
A visão mais bela é a do sabiá comendo sementes nos canteiros
Ele não se incomoda com o som ensurdecedor dos pneus, esqueceu-se
E não sabe que os carros levam seus homens ao trabalho, aos hospitais
aos necrotérios, e outros homens cansados levam cães às praças
É o que lhes sobrou do que aprenderam sobre viver e amar!