Maltrapilha fé, inquilino Deus!
Venham ver o barato,
comprar no ato o peso das culpas,
e todas as multas de perdão negado.
Venham ver o condenado em chamas,
subjulgado às tramas de crenças insanas.
Vejam só que barato
essas almas liquidadas em promoção
um saldão de pecadores, tentação!
Pague uma e leve um milhão.
Acham que isso é barato,
nos deixar sem sapato, comida, opinião?
Para cartão de crédito estourado,
parcelamento milimetricamente estudado.
Isso sim é mais barato,
ser fiel à milanesa,
na fineza da casca dogmática,
com discurso robótico, mensagem automática.
Mendiga e maltrapilha baila a fé de sapatilha.
Olhem só, isso deu barato!
E de fato, meus caros, estou com a razão,
com a espada do verbo te sentencio, te execro,
e não trates de mentecapto um servo da perfeição.
Ah... não vou deixar barato,
vou bater o prato contra a grade
e vomitar um grito de heresia,
aliviar a azia sobre os conceitos de irmandade.
Ih... cortaram nosso barato,
descobriram o gato das ligações clandestinas,
com a benção das propinas, o silêncio se faz santo,
joga-se o manto e tudo bem, tudo há de prosperar,
na arte do bem enganar o que vale é o vintém.
Esse, realmente é o grande barato,
acreditar na suprema finitude da sapiência humana
e na grandiosidade de um Deus condenador,
ditador de tão ínfima misericórdia.
Nesse caso, nada sai barato.
O boato do cego se espalha em fogo de treva,
leva o livre-arbítrio ao cárcere.
Silêncio, a inconfidência já tem seu mártir - a escolha.
Mas, o gaiato não se livra assim barato,
saindo pela esquerda, sem satisfação.
Não seria o homem o ser perfeito e dono da situação,
juiz das galáxias e centro da constelação?
Do alto do inquilinato, o criador estupefato, emudeceu.
Esqueceu de tirar a balança das mãos da criatura.