Mundo Avesso

Eu vivi num mundo avesso...

Pisando em terra suada...

Respirando o ar puro e travesso...

Que soprava do bico, um assovio...

E segurava livres asas...

Vislumbrei a criação...

Obra de arte tão vasta...

Enxerguei a fumaça, vi Maria...

E as linhas por onde deslizava...

Quando ela chegava...

Nos alertava sua gritaria...

Corríamos junto ao gado...

Ao seu lado... “Teus escravos”...

Ela apitava, e se despedia...

Colhia café no braço...

Cortava cana no facão....

Em meio ao jardim...

Um tatu cavava sua toca...

Remédio bom, era de capim...

Doença não era como fofoca...

Mulher tratava-se como rosa...

Homem era feito estopim...

A noite depois da reza...

Painho acendia a fogueira...

E dizia que estória que se preza...

Não se conta com luz acesa...

Em noites calmas, candura...

Os olhos à espreita...

Lendas contadas á beira...

Dum céu cheio de estrelas...

Sonhos na cheia Lua...

Uivos na lua cheia...

Salta pé... só pé...

Na boca, cachimbo...

E um gorro vermelho...

Na cachola do negrinho...

Enquanto o véio, “Senhor”

Chapéu de paia à cabeça...

Espingarda véia à cintura...

Toma pinga da roça...

E toca a caipirinha na viola...

Encolhe e estica...

Sanfona geme...

Brota raiz, chora canção...

A dona, “Senhora”...

Lava roupa no ribeirão...

Faz sabão da gordura...

Come o tal do “capitão”...

Cozinha no fogão à lenha...

E se banha no ribeirão...

Bebida de homi, “cachaça”...

Lugar de muié, “fogão”...

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 03/10/2011
Reeditado em 03/10/2011
Código do texto: T3255521
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.