Sr. Geraldo e os morangos silvestres

*Em memória de meu avô.

“Religião para o povo

E ópio para a dor”

(Ingmar Bergman)

O anjo se sensibiliza quando me fala sobre o pecado original

Faz-me perceber, ao longe, o sino, mas não consigo sentir a sua presença

E quando não há mais luz entre nós, dá-me um beijo sensual

Enquanto durmo...

Nessa noite pude lembrar-me do sonho que tive essa manhã

Estava caminhando numa cidade conhecida, ruas familiares

Muito parecidas, num bairro preto e branco...

... E me perdi caminhando numa larga avenida

Não havia ponteiros no relógio da torre e o do meu punho havia parado às duas e quarenta

Carruagens vagavam lentamente, seguindo um funeral

E vi o corpo, deitado naquele caixão branco

Tão pequeno... Pude ver a criança que jazia dentro dele

E, aproximando-me, inerte, fixei-me em sua face

Meu Deus... Era a minha, desse velho de noventa e quatro anos!

Onírico, egoísta, misantropo e extremamente metódico

Então, lembro-me que amanhã à noite receberei um prêmio em minha cidade natal

Ah, esse mérito bem que poderia ser de “O pequeno sonhador”!

O tempo pesa, sinto-me mais velho do que realmente sou

Ainda haverá perdão para os meus pecados?

Já deitado, mergulho em um sono profundo...

Sinto o calor do dia raiando, penso em me levantar

Levantar mais cedo do que o planejado, arrumar as malas e sair a contento

Sim eu vou... Não rumo ao prêmio

Rumo às reminiscências que me trarão alento

*Baseado em “Morangos Silvestres” de Ingmar Bergman (1957).

*A Geraldo Alves Ribeiro (15/07/1917 – 07/10/2011).

Marciano James
Enviado por Marciano James em 07/10/2011
Reeditado em 08/10/2011
Código do texto: T3263679
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