Aos heróis inexistentes (Dogma)

Heis o que somos nós, além de uma mera cabeça,

Tementes quanto a este amanhã, turvo e roto,

O cálice ético dentro de um silencioso voto,

De erguer-se, com quanto mais a vida endureça.

A infinita insatisfação do ego humano desaflora,

Em querer sentar-se só, no lume único, adjacente,

Achando-se maior, mesmo a ser cego e impotente,

Da prórpia morte não é capaz de arquitetar a hora.

O homem batiza, transa, nesta vazia convulsão.

Nas frias fatalidades nossos heróis construimos,

E ajoelhamos miúdos frente à própria criação.

Na inverdade sobrevivemos, mas nos iludimos.

Os heróis nós criamos dentro do podre coração,

Para admirar as virtudes que nunca possuímos.

Myrna RRP
Enviado por Myrna RRP em 25/12/2006
Código do texto: T327685