Aos heróis inexistentes (Dogma)
Heis o que somos nós, além de uma mera cabeça,
Tementes quanto a este amanhã, turvo e roto,
O cálice ético dentro de um silencioso voto,
De erguer-se, com quanto mais a vida endureça.
A infinita insatisfação do ego humano desaflora,
Em querer sentar-se só, no lume único, adjacente,
Achando-se maior, mesmo a ser cego e impotente,
Da prórpia morte não é capaz de arquitetar a hora.
O homem batiza, transa, nesta vazia convulsão.
Nas frias fatalidades nossos heróis construimos,
E ajoelhamos miúdos frente à própria criação.
Na inverdade sobrevivemos, mas nos iludimos.
Os heróis nós criamos dentro do podre coração,
Para admirar as virtudes que nunca possuímos.