A árvore de clareira

Triste árvore, como te desenhas

solitária entre os lobos ferozes

que não te desejam, te ferem

com seus olhares em fúria algoz!

Se por acaso, árvore não fosses,

fosses ovelha, veado, ou cervo,

seria menos triste tua solidão

mesmo que a morte viesse a tua porta?

Árvore, se tão frágil e franzina

não te desenhasses no campo

poderia ser que te sentisses

algo que seja parecido a amada?

Se não tão solitária no frio

teus gestos não falassem

da dor que sentes por dentro

entregarias teu corpo às feras?

Que ângelus novus tu esperas

nesta solidão sem estrelas

sem sacis ou mães d’água

pra que venha a te consolar?

Talvez este poema, triste irmã,

seja aquele punhal que te escreve

o nome das pessoas que a teu casco

arranham nomes que te olvidam.