Presunção e alarde

Coxo, cego, surdo, mudo

e quem não sofre de maleita;

menino grande ou miúdo,

jovem, gris ou mulher feita;

o bonito, o narigudo,

quem se casa ou se endireita;

capitu ou bento aspudo;

e o que sabe que a sujeita

não suporta o cabeludo,

mas com o bicudo se deita;

quem vive a jogar o ludo,

quem descansa ou se enfeita;

quem não põe o acento agudo,

quem prepara a colheita;

o que tem bastante estudo,

o que tem a mente estreita,

quem crê em inferno sanhudo,

ou quem professa uma seita;

quem de deus se sente rudo,

quem mantém a fé refeita;

o vil e o que tem escudo,

o que vive sem receita,

o vestido, o desnudo,

o que está sob suspeita;

o feliz, o carrancudo;

o que sofre uma desfeita,

e se enraivece, contudo,

logo esquece a despeita,

e veste em paz seu veludo,

com a canhota ou a direita;

– Mas que é vaidade, tudo,

e quase nada se aproveita!

Gina Girão
Enviado por Gina Girão em 21/10/2011
Reeditado em 19/11/2014
Código do texto: T3289775
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