TIMIDO ( EU E O TRAVESSEIRO)
Fui cantor de chuveiro em minha infância
e me tornei musico na adolescencia
Perdi meu dom na juventude
hoje bato lata em semitons
e quando encontro neles algum som
esqueço-me imediatamente da receita
que fiz enquanto ela observava-me
embaixo da mangueira solitária
nos caminhos da fazenda de Vicente Coelho
Ela sorriu com tanta autoridade
e eu um rapaz vindo da cidade
fiquei vermelho e mudo em frente dela
A noite acordado eu pensava nela
falando ao travesseiro o que não pude
Ensaiei quase que toda a noite o meu poema
não sabia que não era a inspiração que me faltava
mas o ar, o folego, ousadia, me emudecia
e novamente esperava pela nova chance do outro dia.
Mas quando a vi chegando pela praça
Meu Deus, como ela é linda,uma graça
Criei coragem pra encontrar com ela
mas quanto mais chegava perto dela
mais ainda não sabia o que dizer
nem mesmo um cumprimento eu me lembrava
e nos teus olhos eu não mais olhava
sorri amarelo e passei por ela
como se estivesse indo adiante
Então eu percebi naquele instante
que ela já não ia me esperar
pois outro eu vi a ela achegar
e ousando em suas mãos tocar
e antes de retribuir qualquer olhar
eu vi ela esperançosa a olhar para mim
esperando ver em mim alguma reação
mas novamente abaixei os olhos
então ela sorriu para o insolente
e lhe retribuiu com um sorriso
olhou mais uma vez pra mim e foi-se
Enquanto eu me lembrava das palavras
que ao travesseiro eu disse na outra noite.