UM VINHO VESTINDO MANOEL

Na companhia do velho Manoel de Barros

Ouvimos um vinho que discursava

Impoluto da sacada para o infinito.

Os gritos etílicos ensurdeciam

O antigo jeito sem jeito de viver.

Meu velho Manoel,

O que seria do tudo

sem a inquietude do nada?

Eis que derrepente uma formiga

Se solta do peitoril da janela

Rumo ao infinito do chão.

O chão soprou seu corpo de volta

Que se chocou com

Um pedregulho de pensamento.

Do choque nasceu mais um gole.

Do gole nasceram mais discursos,

Mais verdades,

Como estrelas novas

Num céu de passado

Tão envelhecido como o vinho

Que nos acompanha,

Arrombando as paredes

Envenenadas pelas mãos

Que há muito não

Se unem

Em exercício da espiritualidade.

Muito bem, Manoel…

Vamos beber o vazio

Que restou na taça

De nossas presunções.

A tarde homenageia os filhos do nada

Ventando gotas de poesia que

Acariciam nossas almas.

Ave doce solidão de pensamentos.

Rito sagrado em honra dos esquecidos,

Dos inascidos, incompletos e desmerecidos,

Afinal, também deles é o reino da terra.

MARCO ANTONIO BREGONCI
Enviado por MARCO ANTONIO BREGONCI em 23/10/2011
Reeditado em 23/10/2011
Código do texto: T3293451