Homicídio
Você ainda gritava muito, descabelada, dedos na cara
Ouvi um disparo próprio de mim em teu pulmão tabagista
Espantei-me tanto quanto você, fui eu a emitir o barulho
Espetei a tua clavícula em teu pescoço num abraço carmim forçado
Me equivoquei, era azul teu vermelho
Enquanto seu suor aquecia o ambiente seco
Era tudo quente, enquanto tudo foi a sangue frio.
Dentro de mim, ficou mar
Não sei ainda se era excitação ou tristeza
Mas eu me tornei toda líquido salgado, de cima a baixo.
Tuas pálpebras, aos poucos, fechavam a unica coisa tua nua
E eu agora chorava, implorava, gargalhava, despida, sincera, crua
Mas não adianta, não mais
Você soltou sua mão fúnebre e pesada sobre o chão
O pouco do branco de seus olhos que sobraram nus apagaram-se
E rolaram para dentro de seu, já parado, cérebro.
Tuas pernas, sobrepostas, sobrepondo o chão
E eu em cima de ti, com lágrimas e sorrisos engolidos
E o ambiente passou para frio e umido.