Homicídio

Você ainda gritava muito, descabelada, dedos na cara

Ouvi um disparo próprio de mim em teu pulmão tabagista

Espantei-me tanto quanto você, fui eu a emitir o barulho

Espetei a tua clavícula em teu pescoço num abraço carmim forçado

Me equivoquei, era azul teu vermelho

Enquanto seu suor aquecia o ambiente seco

Era tudo quente, enquanto tudo foi a sangue frio.

Dentro de mim, ficou mar

Não sei ainda se era excitação ou tristeza

Mas eu me tornei toda líquido salgado, de cima a baixo.

Tuas pálpebras, aos poucos, fechavam a unica coisa tua nua

E eu agora chorava, implorava, gargalhava, despida, sincera, crua

Mas não adianta, não mais

Você soltou sua mão fúnebre e pesada sobre o chão

O pouco do branco de seus olhos que sobraram nus apagaram-se

E rolaram para dentro de seu, já parado, cérebro.

Tuas pernas, sobrepostas, sobrepondo o chão

E eu em cima de ti, com lágrimas e sorrisos engolidos

E o ambiente passou para frio e umido.

Talita Tonso
Enviado por Talita Tonso em 26/10/2011
Código do texto: T3298363
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