TOCA TATU

Toco eu e tocas tu

e só não toca o tatu,

que não se toca,

que toca no oco do toco,

na toca de Botucatu.

Toco eu um trombone,

e tu no saxofone, um bolero.

Eu toco bem o que quero.

E tudo assim fica bom,

fica ou não fica?

Som não se explica...

No tronco da jurema

já se ouviu o cantar da seriema,

e no cinema?

No cinema, até a Doris Day já cantou.

Soou na casa de Irene a sirene

e não foi que o Peppino cantou?

Onde canta o sabiá e a jacutinga?

Onde canta um pé de pinga,

poeta bom decantou.

Pia o jacu e responde a maritaca:

Que canto eu, meu senhor?

Cantares e tocares os mais diversos,

em prosa, em versos.

Dos poetas canta a alma

ou seria através deles que as musas cantariam?

Soa nos hinos, nas manhãs da escola

a garganta dos meninos,

ou canta a pátria, camisa e gola?

Canta no cantor, na voz que é dele,

o amor ou a pele?

Toco eu e tocas tu,

só não toca o tatu debaixo da carapaça.

Só não canta quem não vê que a vida passa

tão sem graça,

e tão sem graça a vida passa,

que sem cantar não é viver. . .