O Suicida
Bem quisera ter nascido,
Loiro, intelecto vivo.
Quisera sim fazer de tudo,
Sem ter de relatar á alguém o motivo.
Mas preso á regras mundanas,
Tento adaptar-me á esse tédio.
Melancolias, incertezas espreitam-me,
Como livrar-me de um mal sem remédio?
Com olhos míopes examino a vida,
Vejo-a como um livro antigo.
O tempo é pobre, o mundo é podre.
Bem sei que carrego essa podridão comigo.
Em vão tento explicar o inexplicável,
Sob um leito pouco utilizado.
A insônia que me consome é maior que tudo,
O mal impiedosamente tem me marcado.
Como vomitar esse ódio pra fora?
Se ele é o tudo dentro de mim?
Como lutar contra algo invencível?
Como esperar o final de algo sem fim?
Às vezes desejo acabar com o mundo,
Acabar com tudo, inclusive comigo.
Mas nem forças para isso tenho.
Embora não sinta o mínimo perigo.
Meu dia é sempre sem sol,
Todos me pisam, me ignoram.
Minha noite é sempre mais escura.
Os pássaros que antes cantavam, agora choram.
O ódio pede pra que eu acabe com tudo.
De medo palpita o meu coração.
Vou seguindo assim esse luto,
Matar-me seria a melhor solução.