HARPEJOS * Cantares... (25)

Eu canto e no meu canto desmascaro

os lobos disfarçados de cordeiros,

os mesmos que dos cimos dos outeiros

só loas vão uivando ao desamparo....

Eu canto, além do fel do desengano,

os versos interditos da canção,

que dizem sim à vida e dizem não

à farsa, sempre em cena, ano após ano...

Eu canto o manto verde dos trigais,

na fome saciada de esperança,

doirada nas espigas e na dança

dos atrevidos bandos de pardais...

Eu canto os solitários campos ermos,

assombros de Florbela e Bernardim,

caminhos perfumados de alecrim

para nos encontrarmos e perdermos...

Eu canto as modas todas deste povo,

nas jóias dos poetas ignorados,

que além e aquém dos tempos sopesados,

cantaram as manhãs dum tempo novo...

Eu canto o lírio roxo, a bela aurora,

a Grândola morena, a Liberdade,

os cravos de promessa e claridade,

o nosso pão por esses campos fora...

7 de Julho de 2005.

Viana do Alentejo * Évora * Portugal

Do livro em preparação: "O Alentejo não tem sombra..."

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 12/07/2005
Reeditado em 28/07/2018
Código do texto: T33498
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