Inês 

    Tem teu nome a estranha graça
     De uma galga verde, estranha.
     Certo langor te adelgaça,
     Certo encanto te acompanha.
      
     És velada, quebradiça
     Como teu nome é velado.
     Certa flor curiosa viça
     No teu corpo edenizado.
      
     Chamam-te a Inês dos quebrantos,
     A galga verde, a felina,
     Amaranto de amarantos,
     Das franzinas a franzina.
      
     Teus olhos, langues aquários
     Adormentados de cisma,
     Vivem mudos, solitários
     Como uma treva que abisma.
      
     Tua boca, vivo cravo
     Sangüíneo, púrpuro, ardente,
     De certa forma tem travo
     Embora veladamente.
      
     És lírio de velho outono,
     Meiga Inês, e de tal sorte
     Que já vives no abandono,
     Meio enevoada da morte.
      
     Teu beijo, do rosmaninho
     Tem o sainete amargoso...
     Lembra a saudade de um vinho
     Secreto, mas venenoso.
      
     Por um mistério indizível
     Não te é dado amar na terra.
     Vem de longe o Indefinível
     Que os teus silêncios encerra!
      
     Deus fechou-te a sete chaves
     O coração lá no fundo...
     Mas deu-te as asas das aves
     Para irradiares no mundo. 

                         (de “Faróis”)
 

Créditos:
www.biblio.com.br/

www.bibvirt.futuro.usp.br   

www.dominiopublico.gov.br


João da Cruz e Sousa (Brasil)
Enviado por Helena Carolina de Souza em 27/11/2011
Código do texto: T3359818