O PAPEL E A PALAVRA
                         (história)



O papel e a palavra
Tem dependência mútua,
Que pelo tempo flutua.

É um fato que o papel
Nem sempre foi como é,
No princípio, uma pedra

Martelada com cinzel,
Registrou pela primeira vez
O bisavô do papel.

E é também verdade
Que a palavra no começo
Era vista só do avesso.

Mas o que a pedra marcava,
Nem lembrava da coitada...
Se esculpia, se riscava.

Mas sem palavra existente,
Tudo na pedra martelado
Não era escrita pertinente.

Mas alguma vantagem se tinha,
A pedra não se estragava,
Com o tempo não embolorava,

As desvantagens da pedra
É que ela não circulava,
Quem quisesse ler a pedra,

Teria que ir onde estava.
E quando se deparasse
Com a “informação” lá contida,

Se sentiria desiludida,
Pois naquela pedra grafada,
Não se percebia... nada...

Porque papel e palavra
Dependem de divulgação,
De alguma agitação...

Mas com a pedra estacionada,
E a palavra inexistente,
Era a hora da virada...

Aí surgiu a madeira,
Nas Tábuas da Lei registrada,
Na história da palavra escrita.

E a madeira foi ficando fina,
E na folha de papel se transforma,
Enquanto a palavra empina,

Ganha letras, ganha as formas,
Alfabetos se apresentam,
Com símbolos que representam

Os sons da língua falada,
De forma só ou combinada,
Faz conjunto e grupamento,

Se somam sílabas que dão na palavra,
E as palavras aí tecem frases,
Contos, histórias e fábulas,

E a palavra, já criada,
Vai se impondo, lapidada,
Se fazendo transformada,

Se traz no papel impressa,
Numa forma que informa,
Mas nem sempre no modo real,

O papel não tem consciência,
E a palavra que lhe deitam
Fica lá eternamente, 

Aguardando os que aceitam
Como verdade o que lá está
Naquela página escrita,

Mas o papel é inconseqüente,
E as palavras dele abusam,
Fazem dele um delinqüente,

Traficante de mentiras,
Terrorista descarado,
Portador de falsos recados.

E o papel assim tratado,
Se sentiu desesperado,
Preferindo o suicídio...

Ser picado em pedacinhos,
Impossível de ser refeito,
E se fez um descontente,

E quis até ser queimado,
Numa morte com sofrimento,
Num martírio enfumaçado...

E tomou então posição,
Declarou solenemente
Que exigiria respeito

Em tudo que lhe seria escrito,
E disse que qualquer trapaça,
O faria se entregar às traças...

O medo se apossou da palavra,
Que temia perder o parceiro,
Secular e absoluto: preciso,

Sócio mais que verdadeiro...
Com equilíbrio se fez comedida,
Fazendo o papel ganhar vida,

E a palavra bela e com ritmo,
Deu-se ao seu dom mais legítimo,
Reverberar o som mais divino,

E se fez do bem instrumento,
E estando pura e qualificada,
Pode dar som a esta poesia. 

José Carlos De Gonzalez
Enviado por José Carlos De Gonzalez em 05/01/2007
Reeditado em 05/01/2007
Código do texto: T336856
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