O Silêncio

Há momentos em que quero chorar e não consigo.

Até parece que não tenho sentimentos.

Que não há um motivo que me faça emocionar e chorar.

Há instantes em que tento gritar.

Mas como? A voz some.

A rouquidão se instala.

A vergonha me consome.

O desanimo me assola.

Já não me resta força alguma.

Para balbuciar uma palavra, um som, um pedido.

Há ocasiões em que preciso escrever.

Mas nada sai.

Os papéis somem, as canetas se escondem.

Na verdade sou eu que procuro esconder.

O que deve ser escrito.

A culpada não é a caneta que falha.

É o meu silêncio que só quer calar.

O silêncio que é um ato de protesto.

Que é um grito de desespero.

O silêncio não fala.

Mas na verdade ele esconde não o nada, o vazio.

A falta de assunto, de não ter o que dizer.

É o contrário.

O silêncio cala-se diante da exuberante graça.

Ou da imensa des-graça.

O silêncio se instala quando a felicidade é tamanha.

Quando a beleza, de tão bela, nos ofende.

Quando a bondade nos impressiona.

Quando a paz reina em nosso interior.

E quando as crianças nos dão lição de vida.

É assim que a fala se cala.

Mas é também quando o grotesco nos afronta

Quando a maldade nos assola.

A insensibilidade nos humilha.

A intolerância nos arrasa.

E quando a falta de cuidado é para com o seu mais próximo.

Não há como expressar, não existe uma palavra.

Por mais pequena que seja.

Quando o nó na garganta se faz em virtude do (des-)gosto.

Neste momento somente os olhos sabem dizer.

Na verdade nem é preciso falar.

O silêncio no seu mistério consegue revelar, indizivelmente, o inefável.

Silvia Santana
Enviado por Silvia Santana em 05/01/2007
Reeditado em 15/07/2008
Código do texto: T337374
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