Maestria da coisificação

Por águas caudalosas

Divago em noite vivaz

Enxugo lágrimas penosas

E o pleito humilde se desfaz

Os embaraços difusos de outrora

Voltaram aos pés da solidão

O regaço mui distante jaz

Paraninfo do esquecimento

Foi-se, foi-se para além-mar

Pretérito desfile de horrores

Clausura outorgou-me em destino

Como passarinho fraquejante e franzino

Desprovido da beleza do arrebol

Visão turva e sofrida

Maestria da coisificação

Puseram-me aquém da vida

Além-do-amar, além-dor, além-da-razão

Austero ditame do colosso

Cravando presas no pescoço

Da pobre e inocente redenção!

Sinta o perfume do alvoroço

Do osso tornando pistão

Ouça o sonido impetuoso

O bramido do colosso

Indo de encontro ao chão

Não sabia ele que, aquele pescoço

Era mais duro que aço

Mais denso do que o não-espaço

Mártir do coração;

Eis a redenção; Eis a trama

A doce dama, advinda do além-mar

Rendida aos caprichos do destino

Fixou no arrebol matutino

A morada das almas devolutas