BALADA AOS HOMENS PERDIDOS

BALADA AOS HOMENS PERDIDOS

Os homens perdidos vem vindo, deslizando

pelas infinitas alamedas do tédio,

vestindo suas roupas de angústia

e trazendo nos braços,

aos pedaços,

seus sonhos.

Os homens perdidos caminham ausentes

de seus próprios pés, do

próprio solo que pisam e

também do tempo em que vivem.

Ostentam nas faces, embora não queiram,

ou não saibam,

a máscara hipócrita

que a sociedade colocou.

Trazem olhares que nada vêm,

porque os olhos que esses homens têm,

a tudo já viram.

E por tudo já terem visto,

já não brilham e nem choram.

Hoje, brilhar não há por que

e chorar não é mais possível.

Trazem nas mãos apenas o frio,

que é o vazio

do nada possuir.

Suas bocas procuram o sorrir,

mas nada acham para esse gesto;

procuram o livre canto, mas

o canto é de protesto.

E até as palavras, tantas,

que querem dizer,

são proibidas,

entretanto.

Por isso são calados,

os homens perdidos.

Os homens perdidos trazem

seus corpos cansados

da procura do amor,

também.

Porém,

antes de amados,

querem amar. E crer.

Mas,

homens perdidos amor não sabem dar,

nem acham crença por merecer.

Eles vem vindo, agora, ao encontro das

cotidianas ilusões. A bebida, meiga e amiga,

o falso amor da meretriz, as canções,

a noite que principia,

a solidão da madrugada,

o nascer de um novo dia.

Os homens perdidos não sabem, mas retratam

a inútil imagem desta procura que se faz,

esta ferrenha ambição, que se chama apenas

paz.

Paz.

Onde se encontra esse mito?

Se é vida

porque então o grito

de dor e de morte

dos soldados em batalha?

Se é esperança,

porque chora de fome

tanta criança?

Se paz é amor e bondade,

ternura e sinceridade,

porque se cultiva a mentira,

e se mata, ainda no berço,

a verdade?

A paz.

A paz estaria com esses homens perdidos

que a procuram sem saber.

Na sua luta calada.

No olhar que não vê mais nada.

Na palavra que não soa.

No canto que não ecoa.

Na lágrima que secou.

Esses homens perdidos jamais

acharão a paz.

Porque somente lhes resta

a força dos próprios passos,

que conduzem os inertes braços,

que embalaram sonhos.

E os corpos, de angustia vestidos,

continuam a deslizar, coagidos,

por alamedas de tédio.

São os homens perdidos que vão indo,

deixando pelo chão, caídas,

de amarelo vestidas,

folhas de viver,

ao sabor do vento.

***

vsm/sp – junho 1967 - inverno