As cartas caem do baralho ...

As cartas caem do baralho

E a cabeça exposta ao orvalho

Já não mais comanda - já não mais -

O corpo estendido no velho

Assoalho

(acha que)

Pensa, escuta, vê, e espreguiça-se

Seguro em seu velho marasmo

(que se acha)

Se acha inocente vítima, acha

A loja aberta e a venda feita

Que se deita

No investimento

Podre

Vinho já velho rompendo o odre

No mesmo ritmo, o sorriso

O sarcasmo

E o dinheiro que compra o orgasmo

Jamais alcançado

E compra o dia, e compra a noite

E o corpo cansado

Deitado no velho soalho

Desesperado

E balançam lá fora as velhas

Folhas

Filhas do caos, imersas na dor

De fingir, de sorrir, de parir

(E cobrem o velho caminho)

Velhas letras há muito escritas

Desditas

De dizer na verdade o que

Não sou

De não saber para onde vou

Além das fronteiras de minhas

Feridas

Não lambidas

Por detrás da velha cortina

Sucumbidas

Que deságuam nas velhas ruas

Que cruzam

Minhas costas completamente

Nuas

Por onde deslizam outras mãos

Cruelmente

Cruas

A escrever apenas mais um, só

Como se eu fosse

Um Poema de amor

Que sai de meu corpo cansado

Deitado no velho soalho

Desesperado

* Margô Antunes

31/12/06

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* Margô Antunes é pseudônimo de Marcelo de Andrade