INSÓLITA AVE

No meu lago interior

A cada mergulho

O fundo

Sem nada

E o canto do pássaro, feito o canto de sereia,

Mergulhou,

Chamou, chamou, chamou,

Até a noite chegar eterna

E continuar chamando feito pio de ave noturna,

Feito Urutau,

Chamando para a noite imensa, cósmica,

Não mais um canto, mas, um lamento, feito um ai,

Com toda a dor da certeza da solidão.

E agora?

Se alguém compreendeu?

Leu, ouviu, entendeu

O que já era só uma onda

Do canto que se desgastou?

Pergunto ou não pergunto

De onde vens?

Terás as asas rotas,

Feito eu?

E o sangue vivo de tão longos vôos

Salpicam o branco das tuas penas

Tanto quanto os que limpo pacientemente

Das minhas asas fatigadas?

Poderá pousar ao meu lado,

Ainda que escuro?

Qual linguagem ouvirei, na tua voz,

Dos cânticos cósmicos,

Será uma daquelas que eu sei?

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 09/01/2007
Código do texto: T341933
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