INSÓLITA AVE
No meu lago interior
A cada mergulho
O fundo
Sem nada
E o canto do pássaro, feito o canto de sereia,
Mergulhou,
Chamou, chamou, chamou,
Até a noite chegar eterna
E continuar chamando feito pio de ave noturna,
Feito Urutau,
Chamando para a noite imensa, cósmica,
Não mais um canto, mas, um lamento, feito um ai,
Com toda a dor da certeza da solidão.
E agora?
Se alguém compreendeu?
Leu, ouviu, entendeu
O que já era só uma onda
Do canto que se desgastou?
Pergunto ou não pergunto
De onde vens?
Terás as asas rotas,
Feito eu?
E o sangue vivo de tão longos vôos
Salpicam o branco das tuas penas
Tanto quanto os que limpo pacientemente
Das minhas asas fatigadas?
Poderá pousar ao meu lado,
Ainda que escuro?
Qual linguagem ouvirei, na tua voz,
Dos cânticos cósmicos,
Será uma daquelas que eu sei?