"Nada"
O sol incandescente de um dia qualquer
Transforma em cinzas tudo o que havia
Tudo o que existia, tudo enfim
Transforma em cinzas
O azul do dia...
E os anjos e as almas
Se esbarram, num trânsito
Infernal que nesta hora
Encontra-se no céu tempestuoso.
O relógio na parede esta parado
O tempo se desfez
Não há mais calendário
Apenas medo e atrocidades
E um talvez.
Não há mais divisão
De terra e águas.
Não existem marcações de território
Os continentes voltaram a estar ligados
Dançamos agora em meio a um velório.
Vê-se ao longe uma fila quilométrica
O começo dela encontra-se na Europa
E o final está perdido entre as Américas
E os olhos vidrados
E que miram
Dois pontos semi-sem-equidistantes
Segue-se a marcha a passos bem marcados
Ao longe soam mil auto-falantes.
Balburdia, balbucio em vão palavras
Desconcertantes, descartáveis, desconexas
O meu destino está escrito em algum livro
E as recomendações seguem anexas.
E o fim, e ao fim e enfim
Cheguei aonde devia ter chegado a muito tempo
Porém foram tantos os contratempos...
E o vento quente corta igual navalha
Encontro-me no inicio do caminho
E daqui vejo a linha de chegada
Procuro em vão o aconchego e chego
E encontro a vida embriagada...
Penso em dizer-lhe
Mil verdades
O corte aberto ainda sangra muito
Acabo então pronunciando
Nada.