Pureza
Esta pureza a arrebatar-me o peito,
Desperta no descanso a claritude,
Esta vil cousa que em sua longitude,
Impetra e fere as orlas de meu leito.
Este bem ao meu ser mui mal tem feito,
Esqueço, mas a tua imagem alude,
E mesmo em silêncio ainda não pude
Calar este grito desmedido que rejeito.
Exumas-te as mil flores de meu pejo,
Fez-me do espírito frio, forma casta,
Num verso único, em feitio e arpejo.
Teu ser cerca-me, e o meu, de ti se afasta.
Não por medo, e sim, por meu desejo...
Que pra tanta dor um peito (só) já basta.