Janela dos sentidos
Penetro na paz incómoda do silêncio
da noite com passos discretos
para não ser descoberto,
onde o delírio dos sexos se afundam
em poços de prazer secretos.
Nestas noites que invento
há gritos mudos que amantes
deixam gravados na memória
do tempo.
Persigo os passos gravados na luxúria
do teu corpo que ficou na água que bebo,
segredos que canto
no degredo
do meu pensamento,
na obsessão do beijo que desagua
na tua face ao amanhecer.
Procuro o reflexo do teu corpo
na ausência que faz doer
o meu último desejo gravado com o sémen
do prazer.
As fissuras da noite incomodam
no seu grito
que faz eco no teu corpo infinito.
Línguas que se tangem
em desvarios de mulher.
Corpos que se esquecem de saber respirar.
Vislumbro no teu movimento oscilante
de estrelas
a geometria pura dos cristais
que brilham no silêncio das noites
que foram nossas
de tantas noites iguais,
e pesa-me no peito um resíduo de saudade.
Falta-me o tempo para te saber olhar…
fujo para o infinito de mim mesmo
onde me afago em recordações de prazer.
Volto ao princípio da memória
e deixo-me adormecer.
Olho as flores ao morrer do dia
que se fecham assim,
como quem mergulha para dentro
de si mesmo
e cisma e prefere à vida
a agonia.
Depois peço-te:
- fala-me baixinho
sim muito baixinho para adormecer
em silêncio mudo até se tu quiseres…
agita-me no teu embalar
de sossego em murmúrio num afago
faz de mim parte do teu sonho
murmura-me apenas as palavras
que me souberes dizer
que eu leio nos teus lábios
aquilo que tu disseres.