Janela dos sentidos

Penetro na paz incómoda do silêncio

da noite com passos discretos

para não ser descoberto,

onde o delírio dos sexos se afundam

em poços de prazer secretos.

Nestas noites que invento

há gritos mudos que amantes

deixam gravados na memória

do tempo.

Persigo os passos gravados na luxúria

do teu corpo que ficou na água que bebo,

segredos que canto

no degredo

do meu pensamento,

na obsessão do beijo que desagua

na tua face ao amanhecer.

Procuro o reflexo do teu corpo

na ausência que faz doer

o meu último desejo gravado com o sémen

do prazer.

As fissuras da noite incomodam

no seu grito

que faz eco no teu corpo infinito.

Línguas que se tangem

em desvarios de mulher.

Corpos que se esquecem de saber respirar.

Vislumbro no teu movimento oscilante

de estrelas

a geometria pura dos cristais

que brilham no silêncio das noites

que foram nossas

de tantas noites iguais,

e pesa-me no peito um resíduo de saudade.

Falta-me o tempo para te saber olhar…

fujo para o infinito de mim mesmo

onde me afago em recordações de prazer.

Volto ao princípio da memória

e deixo-me adormecer.

Olho as flores ao morrer do dia

que se fecham assim,

como quem mergulha para dentro

de si mesmo

e cisma e prefere à vida

a agonia.

Depois peço-te:

- fala-me baixinho

sim muito baixinho para adormecer

em silêncio mudo até se tu quiseres…

agita-me no teu embalar

de sossego em murmúrio num afago

faz de mim parte do teu sonho

murmura-me apenas as palavras

que me souberes dizer

que eu leio nos teus lábios

aquilo que tu disseres.

Alvaro Giesta
Enviado por Alvaro Giesta em 11/01/2007
Código do texto: T343970
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