CANÇÃO DO ONTEM

Na canção do ontem eu desprezei o solfejo

e fiz das fusas e semínimas meu tom maior;

na canção do ontem o piano não foi meu solo

e a cantata, desprezada pela pressa do folguedo,

foi largada na pasta do a rever, do futuro reviver!

Na canção do ontem, meus poemas não encontraram a música,

minha musas não solearam as letras que lhes escrevi

e meus alegros se perderam na noite e na festa;

na canção do ontem, me perdi na mais completa e profana seresta

Na canção do ontem foram lindíssimos os arranjos,

perfeitos os acordes, aleluiás e a sonora harmonia;

mas, na canção do ontem, meu sol não teve o seu dia;

minha lua tomou-me dos olhos o seu prateado e na noite voltou a rebrilhar; na canção do ontem, minha alma se recompôs

mas, reescrita, se perdeu dos meus sonhos e se despiu

dos amores de que, em rosa e azul, se travestiu

de feliz!

CLAUDIO BAHIA, 08/05/2005 – 15:29h