SEM RESPOSTA

E me perguntas onde estou...

Domingos costumam ser cheios de missas e promessas

e vazios de respostas a perguntas difíceis como essa...

Mas, tentemos, afinal somos anjos plenos de insensatez:

Se me procuras, sou vento, me sentes, me tocas, mas não me vês...

Se me contemplas, sou espectro de mim mesmo, vazio de entranhas...

Se me despes, sou a pele das melancolias que acaricia as montanhas...

Se me banhas, sou sombra, molhada apenas no sereno de deslembranças...

Se me penteias, sou a brisa bailando nos milharais suas longas tranças...

Se me tocas, sou corda de lira, desafinada em arpejos de agônica dor...

Se me bebes, sou amargo feito o mel dos outonos despidos de flor...

Se me buscas, estou nos longes de um deserto, feito lágrima vertida em areia...

Se me ouves, sou apenas um sopro, murmúrio distante, um lamento de sereia...

Se me navegas, sou rio em busca de mar, e em espumas de agonia me desfaço...

Se me esperas, talvez chegue apenas os fragmentos de um coração aos pedaços...

Se me lês agora, sou livro de páginas fechadas, abertas em tristura e solidão...

Se me encontrasses agora, decerto eu seria, de novo, apenas mais uma ilusão...

Por isso, não me perguntes onde estou, pois nem eu mesmo sei de mim...

Talvez, eu esteja num país distante, onde mora a fragrância de uma saudade sem fim...

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(para o belíssimo poema “Um sonho para recordar”, de Rose Stteffen)

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ROSE STTEFFEN

Mas persisto

Sim, continuo à procura de onde estás e quero saber porque de mim partiste

Que importa se será dia ou noite, se conseguir aplacar minhas agonias?

Todas as minhas perguntas se resumem na mesma angústia de saber-te

Já antevia, preservando-me, que tu eras insensato e multiplicados fatos

Procuro-te e não te sinto, não te toco, mas o vejo quando no ar te pressinto

Desde sempre sabia que eras não mais que um sopro de leves aromas açulados

Contemplei a tua nudez que é a beleza da transparência da tua alma que se fragmenta

Tu és o orvalho das manhãs e é de ti que sacio minha sede que em mim insiste

Acaricio por delírios teus cabelos numa ternura a qual nunca te deste por companhia

Tua dor une-se a minha dor profunda numa orquestra de nós dois e ecoa pelos ais

Há o outono que só é amaro para quem não vê sua esplêndida beleza

Procurar-te-ei nos desertos, pois se é nele que estás, não mais me perderei

Eu te ouço no barulho dos ventos que sopram entre as árvores de um oásis

E neste paraíso de utopias, navegar-te-ei como fosse mar, ora calmo, ora rebeldia

E ao tocar teu coração, curar-te-ei por amores que tomarei dos anjos por empréstimo

Lendo tua alma, serei alento às tuas chagas, que cultivas como flores raras e doridas

Por certo que és uma ilusão da qual não quero desfazer-me, ainda que tanto me agonie

Já percebia que nem tu entendias por onde eu poderia encontrar-te, pois nada de ti sabias

Talvez a saudade seja o perfume que de ti emana e através dos céus me chama e reclama

O que nunca foi, é o que jamais será, mas o sonho para sempre nas estrelas permanecerá

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Rose, nem sei o que dizer diante de tanta beleza que arrancastes de tuas entranhas... Esse "sonho para sempre nas estrelas", um encanto... E outros versos, outro tanto... Emocionado, me calo. E digo apenas: obrigado por compartilhar conosco toda essa magia...

José de Castro
Enviado por José de Castro em 06/02/2012
Reeditado em 06/02/2012
Código do texto: T3482750
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