Prazer
Como longe de ti por tanto tempo pude estar?
Não sentir tua deliciosa angústia que em mim fere tão fundo?
Negligenciar a dor que infliges aos que ousam penetrar em teu mundo?
Em teu revolto mar – ah, ondas ingratas! – deixar de me afogar?
Ah, tantas noites que perdi em um sono inútil!
Tantas e tantas lágrimas impedidas por alguém de se verter
Tantas desilusões que não vivi; oh, tola criatura, coração tão fútil!
Da vida não sabia o que era sofrer, a delícia do que é de amor enlouquecer
O gosto de teu beijo gélido há muito queria em minha boca
Em min’alma o toque de tuas mãos geladas e cruas
Em meus ouvidos o teu canto triste, senhor daqueles que fogem da luz do dia
Por meio de ti ao mundo expor minhas mazelas, totalmente nuas
Escarnecer da hipocrisia, dos tolos zombar de sua cegueira louca
Sorrir, chorar, em teu vinho me embriagar - Prazer em conhecer-te, Poesia!
Margô Antunes
29/08/06
Direitos reservados
* Margô Antunes é pseudônimo de Marcelo de Andrade