A vontade do Poema
O poema não quer explicação
-quer entendimento, quer curiosidade
quer indiferença mentirosa, quer crítica
não quer forma, quer construção
O poema quer presença, quer sobriedade
quer embriaguês, mas dispensa inspiração
Ele quer olhos, quer caneta, rabisco...
Fiasco... Ruína, risco... nada de borracha,
pois poema apagado, é poema anulado
e o poema rabiscado, é reformulado, reciclado
O poema quer poeta sujo de tinta
O poema quer poeta marcado de poesia
O poema quer poeta convicto...
O poema não quer forma indistinta
com aquela suave distinção da aristocracia
O poema quer identidade, não norma
E o poema tem querer, porque não pediu
pra nascer, tal qual os filhos da burguesia
Tem mimos, pois é a vil elite do saber
O poema é mimado, tem mau caráter,
tem personalidade, tem gênio forte,
vaidade, alma ruim e tempestuosa...
O poema tem pensamentos, tem vida
tem voz e palavras, e quer ser ouvido
quer proclamar aos mares e meridianos,
aos sete povos das missões, e ao país todo
ao mundo e aos homens, ao indivíduo
a esses cegos de idéias e sentido.
O poema também quer ser notado...