Power Mandacaru
Eu existo porque não há escolha.
Eu sou, porque não há medo.
O medo estraçalho no espinho,
na sede magra da criação.
Parou a chuva, faz tempo.
Essas são as promessas do dia,
numa flor branca noturna,
amanhecida murcha,
no início de uma primavera,
num horizonte feito de esboços,
pelos riscos ocre e carvão
dos galhos secos de meus braços.
Eu resisto. Eu rasgos a pele de Fabiano.
Fabiano não sente. Passa.
Com os meninos e baleia,
e sinha Vitória, de beiço agudo.
Isso é canto?
Não, é marcha.
Isso é chão, não porcelana.
Isso é gente. Não raça.
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Ilustração: Xilogravura de J. Miguel: o sol quente e o mandacaru
À Tânia Meneses