[Há noites escuras]
( O meu irmão escreveu-me, e eu, só lhe consegui responder, assim...)
Há noites escuras,
mais escuras que outras,
noites sem a lua dos amantes,
…
há noites que escrevo sem pensar,
tudo é possível, cometas
no quarto, corais na cama,
caravelas no copo de água
baloiçando,
noites.
Noites que removo o coração,
noites que dispo esta pele tatuada,
e o sangue espalha-se pelo
soalho, e o papel avermelha-se
também.
Há noites que escrevo nas paredes,
sentimentos,
histórias de alguém,
podem ser histórias minhas,
podem ser histórias,
…
e olham-me as sombras, assim,
apenas assim, que fazer?
Há noites que as saudades corroem,
queimam o que resta,
como labaredas desenfreadas,
línguas de fogo sem aurora boreal,
sem,
sem explicar.
Há noites tão escuras,
sem soluços, com todas as lágrimas,
que toda a minha vida me reaparece,
novamente, sim,
novamente,
só não a consigo agarrar,
só não a consigo tocar,
não consigo.
…
Há essas noites mais escuras ainda,
as noites das lembranças,
as noites das recordações,
…
esqueço-me dos dias,
esqueço-me do sonho,
esqueço-me,
…
e tudo revejo,
até a cor do dia,
até a cor daqueles dias
que antecedem estas noites tão escuras.
…
Há noites,
há tantas saudades,
são tantas as minhas saudades,
são tão escuras as noites.
...
["E sei dos teus erros
Os meus e os teus
Os teus e os meus amores que não conheci
Parasse a vida
Um passo atrás
...
quero ver-te sorrir"
The Gift Primavera]