[Há noites escuras]

( O meu irmão escreveu-me, e eu, só lhe consegui responder, assim...)

Há noites escuras,

mais escuras que outras,

noites sem a lua dos amantes,

há noites que escrevo sem pensar,

tudo é possível, cometas

no quarto, corais na cama,

caravelas no copo de água

baloiçando,

noites.

Noites que removo o coração,

noites que dispo esta pele tatuada,

e o sangue espalha-se pelo

soalho, e o papel avermelha-se

também.

Há noites que escrevo nas paredes,

sentimentos,

histórias de alguém,

podem ser histórias minhas,

podem ser histórias,

e olham-me as sombras, assim,

apenas assim, que fazer?

Há noites que as saudades corroem,

queimam o que resta,

como labaredas desenfreadas,

línguas de fogo sem aurora boreal,

sem,

sem explicar.

Há noites tão escuras,

sem soluços, com todas as lágrimas,

que toda a minha vida me reaparece,

novamente, sim,

novamente,

só não a consigo agarrar,

só não a consigo tocar,

não consigo.

Há essas noites mais escuras ainda,

as noites das lembranças,

as noites das recordações,

esqueço-me dos dias,

esqueço-me do sonho,

esqueço-me,

e tudo revejo,

até a cor do dia,

até a cor daqueles dias

que antecedem estas noites tão escuras.

Há noites,

há tantas saudades,

são tantas as minhas saudades,

são tão escuras as noites.

...

["E sei dos teus erros

Os meus e os teus

Os teus e os meus amores que não conheci

Parasse a vida

Um passo atrás

...

quero ver-te sorrir"

The Gift Primavera]

Nkisi
Enviado por Nkisi em 27/02/2012
Reeditado em 27/02/2012
Código do texto: T3522694
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