Dies Irae


Não é necessária a escuridão, nem o teatro,
nem orações invertidas, nem cruzes partidas.
A luz do dia trata de trazer do inferno de cada um,
a certeza de que os pedaços de corpos expostos
não são composições equilibradas de uma tela,
ou fingimento cênico feito de lágrimas sintéticas.

Odioso estado de coisas vazias.
É o cheiro apodrecido da manhã
carregado pela mecânica do disparo.
Ossos, sem nome, que você nunca ouvirá.
Não há para onde se esquadrinhar o horizonte.
Tudo queima, nada faz muito sentido,
porque se isso não é teatro, então,
a vida é muito pior do que parece.
Se morre-se, tão ordinariamente, então,
definitivamente,
perdi a inocência.
E perdi minha fala, perdi meu poema embrionário,
que feneceu, carbonizado.
EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 28/02/2012
Reeditado em 28/02/2012
Código do texto: T3525264
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