Não sei poetizar

E quanto mais eu tento me prender à rima,
mais me dá um desejo incontrolável
de sucumbir a um acesso dadaísta.
Bem ao estilo Tzara...
Meter minhas palavras numa caixa de pandora,
sacudi-las, sacudi-las,
e tirá-las dali uma a uma para formar minha poesia.
E na sua estrutura disforme
que seja bem eu mesma esse poema.
A mensagem de uma tresloucada.
Ah como eu queria!
Ser puro amor como Vinícius.
Ser lírica como Cecília.
Ser versátil como Drummond.
Mas enfim,
acabo por parafrasear o que já foi dito
com imensa propriedade.
E encontrando-me subitamente inserida
na poética libertinagem de Manuel Bandeira...
Ai que ultimamente o lirismo me exaspera!
O comedido, o comportado, o namorador
e principalmente o que debruça-se no dicionário.
E numa saída, agarrada qual carrapato
à sua itinerante libertinagem...
Vou-me embora pra Pasárgada.
E eu não sou amiga de nenhum rei.
Melhor assim.
Quem sabe passo despercebida
com a graça de Deus!