Somente ser

Se a inveja transformasse o invejante no invejado,

Seria eu um cão.

Cães não precisam de espelhos para exaltar as virtudes alheias.

Impossível! Altivos demais para serem alcançados.

Talvez um leão, para reinar insolentemente

Sem culpa, sem moral, sem convenção.

Não, muita pretensão!

Talvez um burro

Que, sem saber preferir,

Prefere palha a ouro,

Aconchegante tesouro.

Uma gaivota, quem sabe,

Para esconder as penas da vida entre as nuvens.

Uma ave que não se pergunta do que pode gostar

Ou a que horas deve voar.

Por fim, acho que me contentaria em ser um pato.

Patos fazem de um tudo,

Sem, contudo,

Flertarem com a perfeição.

Eles simplesmente são:

Na eternidade do instante.