Isso não é a Suiça










Vi que a gente de nenhuma ingenuidade,
a nenhuma lei de bem tomava para si,
vivendo em promíscuo decoro e fé,
que muito se estimava da porta pra fora.
Gente já versada nas artes do bem fingir,
com sorriso largo a todos nós acolheu,
para sub-repticiamente de nossos alforges
algumas poucas moedas subtrair.
Mas da curiosidade tomados, pouco fizemos,
desse traço tão folgazão dos costumes.
Nas vielas da vila tão suja quanto nauseante,
se nos ofereciam as carnes das mulheres,
por bem ladinos senhores comerciantes.
Algumas de corpos bem feitos e agradáveis,
outras já antigas e de poucos dentes.
Escravos de ganho por nós passavam,
levando toda sorte de exótica mercadoria,
enquanto à janela, casadoiras moças,
por sob os leques nos fitavam.
Em algum tempo, muito se agradaram
de nossos refinados e pensados costumes.
E mesmo sob o desgraçado sol dos trópicos,
pouco se importavam em trajar veludos,
ou qualquer invenção para o frio do velho mundo.
Muito nos divertimos com o interesse incomum,
por nossa requintada e complexa expressão.
E não podendo em nosso vernáculo se expressarem,
outras tantas e canhestras expressões moldaram.

Já passados anos de nossa estadia,
menos a esta terra pertencemos.
Mas o gentio, eu diria,
suiço se tornou e há quem diga
que nestas terras de infenal canícula,
todos a neve e a geada aguardam.
E que seus relógios opcionais,
são mais que os nossos, tradicionais.
Gente houve que dissesse que nestes costados,
em se plantando, tudo daria, com fatura.
Hoje digo que nestas terras, em se plantando,
da colheita, todos se apropriam.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 11/03/2012
Reeditado em 11/03/2012
Código do texto: T3548217
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