CORTESÃS.

Esquecer que os ventos podem urrar sem trégua,

esquecer que os gostos podem zunir sem medo,

esquecer que as fronhas podem atarraxar os sonhos,

esquecer que os mancos podem desviar do fosso.

Esquecer que as léguas podem traduzir os suores,

esquecer que as névoas podem surrupiar o desejo,

esquecer que as brechas podem dissecar os cantos,

esquecer que os prantos podem combinar os passos,

esquecer que as mãos podem voltar no tempo,

esquecer que a paciência pode caminhar sem pés,

esquecer que os pães podem ancorar os rios,

esquecer que os vãos podem disparar os corações,

esquecer que as fadas podem embebedar seus algozes,

esquecer que os fortes podem socorrer Deus,

esquecer que as taras podem assustar seus cabrestos,

esquecer que o fogo pode entender o que digo,

esquecer que as vozes podem destravar a fé,

esquecer que a dor pode parir o gozo,

esquecer que os nós podem reaver o sol,

esquecer que as letras podem destronar as veias,

esquecer que o pecado pode embalsamar quem quiser,

esquecer que as lãs podem afagar as câimbras,

esquecer que o adeus pode não caber num senão,

esquecer que os gritos podem ser mais roucos,

esquecer que as palavras podem ser nossas mais fiéis cortesãs.

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