Necrofilia
Eu vi a poesia deitada sobre a relva
Seu corpo de versos crivados
Tingia de metáforas os fios de seus cabelos
A boca entreaberta proferia antíteses e eufemismos
Corria em suas veias o frio da repulsa
A poesia cavou o fosso entre a imaginação
E a mesquinhez do real
Brotam árvores de galhos secos
Cortam a paisagem as unhas das estrofes
Garras de monstros jamais vistos
Travestidos de buquês de noivas em delírio
Elegias do ermo em serenata
Cantilenas intraduzíveis
Cantos moribundos
Eu vi a poesia em seus trapos
Depois nua e lívida
Sob o soturno luar
Toca o sino da abadia
E um frade enlouquecido e necrófilo
Mumifica a poesia