Necrofilia

Eu vi a poesia deitada sobre a relva

Seu corpo de versos crivados

Tingia de metáforas os fios de seus cabelos

A boca entreaberta proferia antíteses e eufemismos

Corria em suas veias o frio da repulsa

A poesia cavou o fosso entre a imaginação

E a mesquinhez do real

Brotam árvores de galhos secos

Cortam a paisagem as unhas das estrofes

Garras de monstros jamais vistos

Travestidos de buquês de noivas em delírio

Elegias do ermo em serenata

Cantilenas intraduzíveis

Cantos moribundos

Eu vi a poesia em seus trapos

Depois nua e lívida

Sob o soturno luar

Toca o sino da abadia

E um frade enlouquecido e necrófilo

Mumifica a poesia

taniameneses
Enviado por taniameneses em 17/03/2012
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