Desadaptação
Uma bomba está a caminho, diz para o seu coração
Quem?!
Disparam seus olhos ao redor
Sua alma vai sendo devorada, negra é sua luz
Punhos cerrados, lábios abertos... você se contorce na cadeira
Chove do céu da boca, por curto tempo, espessa neblina
Sabe que algo se forma em algum lugar do corpo
A temida quimera toma forma
Seus dentes trincados permitem uma passagem
Dedos esquálidos escapam de uma fresta,
procurando onde se agarrar
Sua boca se arromba; é a única passagem
O silêncio é tudo – dor absoluta
Mais um músculo contraído e sua vida se vai
Não há dor, só uma violenta paixão
Pálido, quase etéreo,
o braço se alonga, esticando um corpo desossado
que força a saída de seus membros disformes
que se derramam pelo chão
Quisera isto fosse um sonho, mas aí está
O corpo fluido se ergue de uma poça gasosa
Coloca-se de pé, numa gravidade zero
Um véu-com-pernas; lençol aquoso
Criatura do criador
O coração pergunta
O visitante responde
Se a pergunta é “quem é você?”,
a resposta é você
A descrença é forte demais para fazê-lo sólido
Sua visão tenta fixá-lo, mas ele sai de foco
O mais estridente uivo do inverno passa pela sua espinha
Os gritos são quase tangíveis
O chão é uma cama de veludo na qual você afunda por um tempo
Mas logo retorna à superfície
Subitamente você está só de novo...
Seus olhos passeiam pela casa
Eco:
A bomba não explodiu, porém os fragmentos estão presentes
Tudo isso não se pode explicar em palavras
“São manchas desnecessárias”
Mas se você está conseguindo ver,
é porque é fruto de sua imaginação