Carmem Teresa Elias e Walter de Arruda

AMO MEU RIO


Deve ser o calor...
Passando pela Rio Branco
Perdi-me... Vi um senhor franzino
Distinto... Passando, parou... Olhou os carros
Que passavam... Resmungou algo... Foi até a parede
Do prédio e sumiu, assim pelo ar, sumiu...
É um Fantasma das calçadas...
Que só de vir explicar
Deve ser o calor,
É só isso, pode
Doer a nuca

Em casa, liguei...
O ventilador e gelei-me...
Vento, susto, surpresa, parece
Não haver diferença... Não pode ser,
Mas era à tarde e isso não acontece de dia
Ou será que acontece? e, não prestamos atenção....
Onde está a revista velha que eu lera?
Ah! Aqui está! Sentada no sofá
Onde a deixei... Nossa! É Ele!
Ali na Galeria Cruzeiro...

E na calçada...
E me olhou... Será que me viu?
E levava aquele embrulho, será que esqueceram
De entregar e ele voltou para buscar?
Sempre perfeccionista contumaz !
Mas a Galeria não existe mais
Em 57 com os protestos
Foi ao chão demolida
Ele, nem sabia?
Era ali o foco
Dos sambas
Intelecto
Popular


Foto do Hotel Avenida sobre a Galeria Cruzeiro
Primeira sede do Cordão do Bola Preta...
jeffcelophane.wordpress.com



Que saudades
Dos bondes antigos
Indo à Zona Sul, bondinhos
Entre bairros jovens que cresciam...
E p'ra todos os lados: Flamengo, Catete, Gávea
Jardim Botanico... E depois Copacabana, Ipanema, Leblon
À tarde todos iam p'ra casa de bondinhos, o agito em pé,
Nos trilhos seguros para não esquecer dos chapéus...
E nessas horas a Galeria era a maior festa
Se preparando para ver a noite!
E as Brahmas geladinhas
As novas músicas
Os sambinhas


Foto Divulgação:
veja.abril.com.br/blog/passarela/avenida/o-museu-do-bola-preta/



E aquelas pessoas
Que vivem a vida só num momento
Sempre presentes num auditório perene
Panos de fundo na tela de uma cena importante
Dizem cantando que o Flor de São Lourenço
Foi o primeiro cordão pelas nossas ruas
Em 1885 desfilando com todo vigor
Saiu cantando e dançando:


Ó D. Mariquinha
Agite o seu lenço
Para dar um viva
Ao Flor de São Lourenço...


Será que foi esse cordão
Ou os Invisíveis do mestre Valentim
Alguém viu os Invisíveis em 84 de dia ou de noite?
Antes de os Cordões serem lançados, as grandes Sociedades
Dominavam a alegre festa de Momo imitando
O velho mundo e o entrudo animava...
Das sacadas tudo era lançado
Aos inocentes foliões
Que passavam



O fantasma
Em pé na calçada
O que ele esquecera ali?
E p'ra que serve um pacote
Que se esquece? Pela segunda vez...
Gelei-me...O senhor magrinho, distinto...
Vi novamente... O Conselheiro Rui Barbosa
Que tanto quis conhecer parou a meu lado
E se foi a pé p'ra casa levando
O pacote com o carimbo
Da Lavanderia...


Mas que vim
Aqui fazer, comprar?

Um leque de madre-pérolas

Presente de aniversário à minha mulher
E onde vou encontrar isso... Puxa!
Podia era perguntar ao
Rui
Agora que ficamos

Conhecidos...



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Bibliografia:
Coletânea - Fev. 1958
Artigos: Momo Monarca Absoluto
Por Marisa Lira
Coletânea - Fev. 1958
Artigo: Memórias da Galeria Cruzeiro
Por Salvyano Cavalcanti de Paiva


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Carmem Teresa Elias e Walter de Arruda

 
Carmem Teresa Elias e Walter de Arruda
Enviado por Carmem Teresa Elias em 24/03/2012
Código do texto: T3573332
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