Crepúsculo de outono
Esther Ribeiro Gomes
Caem as folhas da velha árvore
e se esparramam pelas calçadas tristes...
Tantas pessoas passam por elas, indiferentes,
sem perceberem a melancolia do dia que fenece
e meu olhar, junto à paisagem, se entristece!
No crepúsculo de mais um outono,
sigo entre as folhagens desbotadas
pelas longas alamedas do abandono,
a derramar furtivas lágrimas que teimam chorar,
na solidão impiedosa das insones madrugadas...
Gerânios se debruçam na janela, comovidos,
ao sentirem o doce perfume das rosas
junto aos soluços que não consigo reprimir,
pois sei que mais outonos hão de vir,
a espalhar suas folhas sobre meus tristes ais...
E sem olhar para trás, sigo meu caminho,
sorvendo devagar a velha taça de vinho,
a celebrar a vida muito bem vivida,
daqueles dias que não voltam mais!