Pedaços Pontiagudos de Eu

Cada ato amoroso

é uma conspiração contra a minha

existência.

Este é um poema para os conspiradores

para as multidões e para os admiradores

de tudo o que não sou eu.

Cada ato amoroso

é uma guerra mundial que explode

em mim. Um holocausto

de uma única pessoa. Um vidro

que se espatifa em um único caco.

Pontiagudo.

Não.

Tranco estas palavras com as chaves

que me restaram. Usarei daqui em diante

palavras velhas e abandonadas que ainda

contém pelo menos um pote de verdade

(ainda que verdades fora do prazo de validade).

Apenas segure-as com cuidado:

se caírem

podem despedaçar o silêncio.

Preciso beber um poema.

Cada ato amoroso

é uma conspiração minha

contra mim,

pois que se me explodo

em mim

sou meu próprio

eu-bomba.

Ver em excesso provoca a ilusão de que não se está cego.

Pois fecho os olhos e me explodo em fragmentos de ilusões

pedaços de vazio repletos de um único instante.

Abro os olhos e berro uma pálpebra.

Cada ato amoroso

é um saco de lixo

derrubado no quintal do meu cérebro

espalhando pelo mundo toneladas

de memórias que se esqueceram

de se transformar em momentos.

Os natimortos não têm cemitérios.

Lasevitz
Enviado por Lasevitz em 25/01/2007
Código do texto: T358011